Sunday, August 2, 2015

A carta

Esta é uma longa carta.

Não sei se algum dia a vais ler. Não sei se ao leres, vais saber que é para ti, ou mesmo se souberes, se te vais importar com o que digo.
Eu era nova, não era ingénua, mas tinha o coração partido e fazia-me de mais forte do que aquilo que era.
Tu eras, ou pelo menos nessa altura, eu achava que eras, aquilo que eu desejava e queria noutra pessoa.
A química existia. E as coisas evoluíram. Não me arrependo de nada.
Os momentos que passamos juntos, as conversas que tivemos, o sexo, para mim maravilhoso, que tivemos. Não me arrependo de nada. Olho para trás e fazia tudo de novo.
Do que me arrependo? Ou melhor, do que me causou mais dor e me fez ver o mundo com outros olhos, mas que não me arrependo?
De me ter apaixonado por ti. De te ter entregue o meu coração ainda frágil, e este idiota ter-se apaixonado por ti.
Não foi no imediato, mas foi acontecendo. E quando dei por mim estava demasiada agarrada a ti. Ao que sentia por ti.
Do que me envergonho? De ter tido necessidade de te ter. De te querer tanto que doía, de te querer para mim como quem quer água para beber.
Envergonho-me de ter ficado tão carente de ti que qualquer pedaço que me fosse atirado servia. Envergonho-me de te ter amado de uma forma tão violenta e dolorosa que me devastou.
Anulei-me, rebaixei-me e deixei-me pisar por ti.
Quando terminou, e apesar de ter tido relações que já me tinham partido o coração, esta conseguiu partir-me o coração em mil e um bocadinhos. Partiu o que já só restava preso por fios e ficou desfeito em pó.
Levei meses, quase um ano a recuperar.
Humilhei-me tanto, mas tanto, que quando penso nisso tenho vontade de bater em mim própria.
Chorei, chorei tanto, que hoje em dia só choro por aquilo que é realmente importante.
E não fossem os amigos a ajudar-me, e eu não sei como teria superado.
Não foi só superar a dor de te ter perdido. Foi também superar coisas que passei, que vivi, que experimentei contigo e que me podiam ter corrido muito mal. Coisas essas que trago dentro de mim e nunca contei a ninguém.
Superei. Não morri. Aprendi que não se morre de amor, nem de coração partido. Aprendi a valorizar-me e a pôr-me em primeiro lugar. Aprendi a não me rebaixar e ser menos do que aquilo que posso ser.
Hoje posso erguer a cabeça e dizer que sou uma pessoa feliz.
Tudo o que vivemos fez-me crescer. Fez-me perceber o que não quero para mim. Fez-me perceber o que me faz mal. Tornou-me também muito desconfiada no que toca a relações. Cautelosa será uma melhor palavra.
Mas também ensinou-me a vivê-las da melhor forma.
E perguntas: "Mas se estás assim tão bem, qual é a necessidade de escrever esta carta?"
A resposta mais honesta: Não sei.
Podia dizer que é catártico, mas não o é. Essa já tive à muito tempo.
Para deitar cá para fora o que sinto? Também não é. Sinto uma nostalgia. Mais nada.
Porque finalmente atinei com as palavras e quero começar a escrever e isto foi a primeira coisa que me ocorreu? Talvez.
Não é uma carta ressabiada. As nossas vidas continuam.
Espero que tu também sejas feliz.

De alguém que te amou e que te libertou.

1 comentários:

Casaert said...

Uns choram, outros deprimem, tu escreves, é importante deitar cá para fora os sentimentos que mantemos aprisionados, liberta, torna nos mais leves.

Força!