Friday, June 15, 2007

Grito

Grito

"Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que é nosso.

São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo que é nosso
é excessivo.

E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz-te o colo
de espádua a 'spádua.
São os teus olhos.
Depois, o grito.

Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
do outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.

E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa!"

1 comentários:

blonde said...

foi com este poema que pela primeira vez entrei em contacto com a poesia de David Mourão Ferreira! Lembra-me bons momentos, por isso deixo aqui para vocês lerem!